É estranho nosso poder de adaptação. Já parou para pensar em quão rápido você consegue se adaptar a situações boas ou ruins?! Mesmo quando estamos no fundo do poço, a gente consegue achar uma posição menos desconfortável e ficar por lá. Tudo isso pra contar que fui demitida. Sim, Brasil: aconteceu, minha primeira demissão. Demorei um pouco pra escrever sobre isso por aqui, afinal, acordei com o emprego dos sonhos de alguém e dormi desempregada e sonhando de novo. Poético, mas altamente instável.
Nos últimos meses, a vida foi conturbada por aqui, porém maravilhosa. Hoje eu vi uma arara, uma linda, reluzente, livre arara, enquanto eu estava parada na varanda, sem pressa para nada. Minha gastrite tá bem mais tranquila, meu sono regulado, tô passando tempo de qualidade com meus pais, invisto tempo só em acariciar os pelos de Pipinho.
Tem dias que eu surto, economicamente falando. Lógico que desde que comecei a trabalhar, aos 17 anos, eu venho me preparando financeiramente para esse momento, mas não é fácil ver que o seu salário não tá caindo no dia que caía antes. Além disso, o plano A já estava em andamento, trabalhar era o plano B.
A coincidência mais legal de todas foi ser demitida na mesma semana que meu pai aposentou (forçadamente, diga-se de passagem). Pipo definiu bem: “a desempregada namastê e o aposentado inconformado”, que dupla!
Cheguei no trabalho no horário de sempre, dia 9 de janeiro, limpei o e-mail, fiz alguns atendimentos e fui tomar o meu café da manhã. Agradeço por isso, imagine passar por uma demissão de estômago vazio, credo. Vi que meu ex-gestor dirigiu um olhar diferente para mim, mas não me atinei, não naquele momento. Voltei do café, sentei na minha mesa, comecei o dia formalmente. Um dos meus colegas estava falando sobre alguns problemas com o ex-gestor, que não parava de conferir o celular, até que ele o interrompe informando que tinha que ir pra uma reunião com urgência. Não sei como, mas foi ali que eu soube. Pensei “não vai dar dois minutos e vai chegar uma mensagem para eu encontrá-lo na sala”. Bingo! Não vou mentir: a primeira sensação foi de inutilidade. Eu me senti um nada. Acabei de pesquisar o significado de inútil e, entre outros, está ‘desperdiçado’. Cabe. Depois veio o alívio, um alívio quase pungente e, com ele, as lágrimas. São dois os motivos que me fazem chorar normalmente: raiva e alívio. A pessoa do RH ficou comigo por uns 40 minutos, explicando os trâmites legais. O mais curioso foi quando ela disse que eu não precisava contar para ninguém que fui demitida, que na minha carteira só constaria ‘fim do contrato’. Oi? Não acho que eu deva me aprofundar aqui e meu jurídico desaconselha, mas entendam, não é vergonha ser demitida, é assim que funciona o sistema. Nem todo mundo que foi demitido é um mau funcionário, assim como nem todo mundo que manteve o trabalho é bom. Ter sido demitida não é uma vergonha, não me define e não deveria definir você também.
Boa rainha do drama que sou (quem me conhece sabe), fiz questão de usar a caixa da humilhação, coloquei todas as minhas coisinhas lá, inclusive um terrário feito semanas antes numa atividade da Semana da Saúde Mental do Funcionário. Dei o nome de Demi ao terrário, seguimos fortes (eu mais forte que ela, que tá borocoxozinha, se adaptando ao ar puro do campo).
Então, meus caros leitores e leitoras, fica aqui o fim (que na verdade é um puta começo) dessa história: por conta de outras decisões e planos, levei um mês para contar para os meus pais. Meus pais são as pessoas cujas opiniões mais me impactam. Dentre outras novidades que contei para eles, essa foi tipo “ah, okay, demitida, legal, mas é esse outro negócio aí, como vai ser isso?”. Eu passei um mês tendo revertério pensando que ia decepcioná-los e tudo com que eles se importam é a minha felicidade. Ahhhhhh! <3
Observação 1: eu sei que nem todo mundo que é demitido pode se dar ao luxo de levar com leveza a situação, tenho plena consciência dos meus privilégios. Cada história é única, sendo esse apenas o meu relato.
Observação 2: se tocar seu coração e quiser apoiar uma desempregada (prometo usar a carta da desempregada só dessa vez), se inscreva no meu canal no YouTube e recomende essa News pra alguém. Tenho feito de lá um diário em vídeo, pra não deixar a vida passar por mim. Adoraria a sua companhia.
Pritaco:
s.m. 1. Palpite pouco confiável ou fidedigno; 2. Palpite dado por alguém que, geralmente, não conhece o assunto, mas insiste em comentar.
🕵️♀️ Bobbie Goods - Se tu transitou em qualquer rede social nos últimos meses, viu o famoso livro de colorir cheio de bichinhos fofos. O que não te contam é que é uma seita, daquelas que vão consumindo seu tempo e dinheiro. Comecei comprando o livro original na pré-venda da Amazon, daí comprei as canetas baratinhas (que chegaram antes do livro). Para compensar esse absurdo, comprei o livro fake na Shopee, comecei a colorir e, sim, me apaixonei. Depois disso, foi só ladeira abaixo, mas quem me vê pintando, me vê sorrindo. E eu posso parar quando eu quiser, rs.
🕵️♀️ Choppy Short Hair - Toda vez que minha vida muda drasticamente, eu preciso fazer alguma mudança física para marcar/acompanhar a fase nova. Pode ser uma tatuagem, um piercing, uma nova cor de cabelo ou (o meu preferido) um novo corte de cabelo. Cortar é, no geral, a opção mais barata e indolor, à qual eu levo apenas dois meses para me adaptar (tem essa maluquice também: na maioria das vezes, eu amo no salão e odeio por 60 dias consecutivos, daí amo de novo e sigo feliz com minhas escolhas). Há um mês aderi ao Choppy Short Hair, que eu nem sabia que tinha nome, até começar a associar todas as minhas referências. Tô trazendo aqui como indicação porque 1. cabelo curto é uma delícia; 2. não odiei depois que cheguei em casa; 3. tô muito pronta pra encurtar mais, aguardem.


Sobre filmes e perspectivas.
—Em Trânsito (2018), de Christian Petzold, meu diretor favorito, é uma obra densa e cheia de nuances que mistura a tensão de uma narrativa de fuga com uma reflexão sobre identidade, exílio, amor e abandono.
Ambientado na França durante a Segunda Guerra Mundial, o filme segue um refugiado que assume a identidade de um escritor morto para escapar dos nazistas. Petzold utiliza a estética de um filme de época para contar uma história atemporal, onde os personagens devem se deslocar, ou não, decidindo assim também quem abandona.
Desde que o filme encerrou, congelado no rosto de Georg, rosto apaixonado e esperançoso, não consigo pensar em mais nada. Aqui, um ponto de detalhe: Petzold sempre finaliza com rostos, imprimindo a sensação que a narrativa inteira lapidou durante a obra; aqui, é igualmente marcante.
Apesar da narrativa complexa, sem demarcação de tempo e espaço, Petzold trabalha tão cuidadosamente cada personagem que é palpável cada uma das tomadas de decisão. Uma mescla de fantasia e realidade, evocando fantasmas do passado (ou presente), os personagens estão ali e não estão mais. Marie é como um sopro na tela: entra, muda tudo ao redor e se vai, em trânsito.
O desespero do fim batendo à porta, a burocracia da vida, o que fazer para permanecer? Georg é doce; do início ao fim, se doa pelos seus. Com postura distante, sério, mas basta um momento a sós com alguém e se mostra tão disposto a se doar. Canta com voz macia para Driss e a mãe; ele ainda canta. A mãe de Driss não fala, e Driss mal poderia.
Mas Georg canta e traz de volta a vida ali. Quando está com Marie, ele a acalanta, mostra que ainda existe possibilidade, ainda há por que ir (ou ficar). Abraça, enxuga lágrimas, diz que vai cuidar, e cuida. Até o final, ele está ali para cuidar. Da moça, dos cachorros, do médico jogado à desesperança. Georg é um sopro vitalício de esperança, e quando chega ao final, seu rosto não nega que tudo pode ir, mas isso ele não vai abandonar.
Marie diz que procura o marido porque precisa do visto, mas, ao conseguir, se mantém procurando o marido. Acontece que a busca é sempre subjetiva quando tudo que é palpável lhe foi tirado. Ela beija Georg, abraça o médico, está sempre em relações sobrepostas. Mas não parece importar com quem Marie se relaciona; a questão que permeia é com quem ela ficará, ou quem ela vai abandonar.
Tudo gira em torno dela em um ponto, mas ela continua indo e voltando, sem fincar sua decisão.
Ir ou ficar, abandonar ou ser abandonado. A guerra tirou tudo o que se podia daquele povo; agora eles vivem em trânsito. Sem identidade, sem terra. Mas levam consigo o que realmente vale: o amor.
E só o amor vale o estar, ou o ir.
“Quem esquece mais rápido? O abandonado, ou aquele que abandonou? Me interessa saber o que pensa um escritor. Os abandonados não esquecem nunca, se diz. Mas isso não é verdade. Eles têm as canções bonitas e tristes; com eles está a compaixão. Com aqueles que abandonam, com eles ninguém está. Eles não têm músicas.”
Fernanda Jorge
Com amor,
Pri.
Meu jurídico 😂😂😂😂😂😂 aaaahhhh amiga queria tanto que fosse a única novidade do ano 😂😂😂😂
Eles que perderam, sejamos sinceras. Por isso a paz
a carinha do Pipo nessa foto, não aguentoooooo <3
amei o cabelo e a nova tattoo!!
muito sucesso no seu novo ciclo!! beijão