Colecionando Receitas:
Depois de adesivos, livros, Havaianas, vestidos e pôsteres de caminhão, finalmente, uma coleção que não ocupa espaço e me traz uma satisfação genuína.
Nos últimos tempos, nos encontrávamos obcecados por cheesecake. Se o restaurante tivesse a bendita no menu, Marquitos e eu nos olhávamos e nada mais precisava ser dito. A gente costuma se arriscar a reproduzir em casa receitinhas que gostamos muito, mas a cheesecake não tava animando, tinha cara de complicada, sabe?! Eis que, fomos em família ao Mocotó, e pedimos como sobremesa a prima da cheesecake, ela, a mais amada atualmente, torta basca. Meu coração fraquejou, sério. Para nossa alegria, estávamos na época do Natal e precisávamos de uma receita doce.
Cozinhar em família é sempre aquele caos gostoso, que coloca ainda mais à prova o sucesso da receita, mas posso dizer que, meus amigos, anjos tocaram suas harpas quando provamos. Foi tão, mas tão aprovada, que desde então já fizemos mais 3 vezes, totalizando 4 tortas em (sim!) um mês. Minha versão preferida foi a com gorgonzola e doce de leite de acompanhamento, mas comer pura, geladinha, também é de ajoelhar e agradecer aos céus.
A execução é bem simples, só não é uma receita barata, visto que a bisnaga de cream cheese tá pela hora da morte (além de ser difícil de achar nos mercados por aí), mas vale cada centavinho investido. Fizemos duas vezes na casa dos meus pais, uma pra levar para meu tio Joaca (Joaca, inclusive, merece uma sessão nessa News todinha sobre ele, aguardem) e fizemos uma pro aniversário da nossa amiga Jorja. Se você é nosso amigo e está lendo isso, por gentileza, nos chame para um rolê, só para termos uma desculpa para fazê-la novamente. Obrigada.


Calma, Marina.
Pra apaziguar alguma angústia que eu sei que já vivi, mas que Marina só vai aprender a lidar com o tempo.
Desde que comecei a me aventurar na produção de conteúdo, em grande parte para curar o pânico de exposição que, por incontáveis vezes, me paralisou, passei a sentir prazer no processo. Gosto de ter um espaço para registrar pequenas doses do cotidiano, para enxergar beleza e abraçar com humor os perrengues que todos passamos, sem exceção. Mas um fenômeno acontece toda vez que publico uma edição nova por aqui: perco alguns inscritos. Levei um tempo para fazer as pazes com isso e enxergar que sim, é um processo natural de seleção. Fica quem se identifica comigo e com a minha escrita, o mesmo eu faço enquanto consumidora.
Foi na angústia de chegar a essa conclusão que entendi uma falha minha, ainda não agradeci com afinco vocês que estão por aqui. Muitos chegaram pelo meu convite direto através do Skoob, dando um voto de confiança ao meu trabalho, e é natural que, caso não gostem, se retirem. A esses também agradeço, por terem topado conferir meu conteúdo. A News é minha terapia, um lugar onde me expresso por essa que é a forma de comunicação mais bonita para mim, a escrita. Quantos passos até que algo esteja de fato num papel ou numa tela? Você pensa, você escreve, você lê, muda algo ou não, relê e, só então, se abre para o mundo (mesmo que seja esse mundinho tão pequeno, de pessoas dispostas, que se inscreveram por aqui). Meu muito obrigada! (:
Sobre filmes e perspectivas.
Fernanda Jorge, Jorja, é uma mulher, o que por si só já pede muita coragem nesse mundão, mas pra além disso, ela é profunda. Sabe daquelas pessoas que trazem dados para embasar um ponto de vista? Ela estuda seus hobbies, tem uma memória incrível, é desenrolada, anfitriã, cozinheira e vive a vida mais agitada e empolgante que conheço. Foi com imensa generosidade que ela topou ter sua seção por aqui, que não será fixa, visto que a vida atropela a gente vez em sempre, mas toda vez que tocar o coração da maravilhosa, estaremos aqui (e, secretamente, torcendo para ela criar sua própria News). Vale ler até o final e pegar essa indicação de filme de quem sabe do que tá falando - escrevendo -, já coloquei na minha lista de próximos filmes por aqui.
—Para ser o primeiro filme, escolhi um que me emocionou, e emociona. De uma obra linda e fascinante que indico a todos.
Retrato de uma Jovem em Chamas, um filme de 2019, dirigido por Celine Sciamma (diretora de Tomboy, Girlhood e o excelente curta Pauline).
Como pode o amor permanecer amor sem o amado?
Pela memória.
E se o retrato é o a consolidação de uma memória, retrato de uma jovem em chamas é essa lembrança eterna de um amor voraz.
Marianne foi contratada para fazer um retrato de Heloíse, sem que ela saiba que é objeto da obra. Esse retrato vai ser enviado para seu futuro marido, e ela se recusa a ser retratada pois recusa o casamento.
Logo de início Marianne se joga ao mar para pegar sua tela que havia caído, ali já está claro que espírito livre e objetivo tem essa mulher, capaz de se jogar no mar revolto para recuperar o que é seu. Quando chega na casa, logo se serve, não espera ser servida. Numa época que mulheres não tinha direitos nem opções, Marianne se posiciona com naturalidade ocupando o espaço que entende ser seu.
A apresentação de Heloise é maravilhosa, vemos ela de costas, com seu capuz, caminhando. Todo um suspense, e ali já imaginamos uma Heloise, já definimos no nosso imaginário quem é essa mulher sisuda que recusa as tradições. Até conhecermos ela de fato. É interessante que quando ela diz, muito depois, para Marianne que não é ela naquele quadro, ela fala conosco também. Não a conhecemos ainda.
“Eu estava ansiosa por isso.
- morrer?
Não, correr.”
A primeira fala de Heloise ao quase se jogar do precipício é a sede de liberdade que perpetua por toda obra.
Um filme que se constrói nos olhares. Marianne não desprende os olhos dos detalhes de Heloise porque precisa pintá-la, retratá-la. Nós ficamos fascinados por acompanhar cada detalhe junto com ela. Até que os olhares vão se transformando, e Mari descobre que observar é também, ser observada.
A atmosfera de desejo e paixão toda conta, as duas são conectivas e não tem mais espaço pra não dar passagem. Elas precisam viver aquilo.
Amo como a experiência de Mari e inexperiência de Helo não dizem absolutamente nada sobre a relação que as duas constroem. Helo falta em experiências passadas, diz que nunca amou, nem viajou, nem conhece música, mas ela é atenta à vida, isso é suficiente pra ela entender tudo que tem em volta, com muita sensibilidade.
A cena da fogueira é uma das coisas mais lindas que já vi no cinema. A escuridão que desenha o calor do fogo nos rostos daquelas mulheres, a irmandade, os cânticos, a tensão. O vestido de Helo pega fogo pra externar o que por dentro já estava em chamas.
A intimidade que se segue vai criando camadas lindas na relação, elas conseguem conversar sobre tudo. E nenhuma frase é descartável nessa obra. Em algum momento Helo pergunta: será que terei um pouco de alegria no meu casamento?
O medo é de que não exista mais amor depois dessa avalanche.
Importante também pontuar a relação entre elas e Sophie, a empregada. Ao saber que que ela está grávida e não deseja a gestação, todas (mulheres da vila) se unem para ajudá-la a abortar. E por mais que em algum momento seja doloroso, o olhar de Céline se sobressai, e entrega compaixão até e, principalmente, nesses momentos. Quando Sophie está abortando tem um bebê ao lado na cama, segurando a mão dela com o dedinho. O bebê participa da interrupção da nova vida, porque não tem julgamento naquela comunidade, elas estão ali pra honrar o desejo e necessidade de cada uma, e farão o que precisarem, juntas.
Na recuperação elas jogam baralho, riem, bebem e comem. Se cuidam. Mulher pode decidir não ser mãe, mas materna de qualquer forma.
Logo a assombração da despedida começa a aparecer, ambas começam a se questionar sobre o depois. As discussões são preciosas, e a despedida é cortante. O conto de Orfeu e Eurídice se repete, Mari escolhe olhar para trás, na tentativa de formar memória, de criar retrato.
Pra sempre existirão uma na outra, Helo mais uma vez é retratada, agora com um filho, mas deixa a marginália, sempre estará com Mari em pensamento.
Outra despedida acontece ao final, dessa vez involuntária. Mari vê Helo pela última vez, e agora fecha-se o ciclo, o musical moderno se conclui, Helo chora, eu escolho acreditar que lembrando que da última (e primeira vez) que ouviu estava com Mari. Agora não está mais, mas pra sempre estará também, na memória. No retrato.
“Não se arrependa. Se lembre.”
- a todos os amores que permanecem depois da ida.
Fernanda Jorge
Com amor,
Pri.
Eu amei essa edição!!!!
Uma leitura que deixou o coração quentinho. Só não entendi muito o convite pro rolê pra outras pessoas, já que deixamos claro que que estamos disponíveis pra comer todas as tortas com vocês.
"Se você é nosso amigo e está lendo isso, por gentileza, nos chame para um rolê, só para termos uma desculpa para fazê-la novamente. Obrigada."
Priscila, se preserve. Vc não precisa convidar ninguém você já tem quem comer com vc...
O caderno do MF uma humilhação ao meu de receitas.
PS: uma das melhores News até agora.