#13 Hoje eu completo meu primeiro ano de vida.
Contudo, pra quem olha de fora, são 34 mesmo.
Cansei de ser jovem.
Um espaço seguro para dizer que envelhecer é muito legal e muito cruel. Uma sessão onde vou reclamar, compartilhar e rir de tudo que vem acontecendo simplesmente porque o tempo está passando (rápido).
No ombro direito uma tatuagem feita aos 32 anos, quando eu começava a ter esperanças, uma citação bíblica que esbarrou em mim enquanto eu lia Moby Dick e não desgrudou mais: “E só eu escapei para te contar.” Meus pais e os amigos mais próximos já conhecem essa história, que só tive coragem de dividir em 29 de outubro do ano passado, então me perdoem aos que só descobrirão agora.
É vergonhoso admitir o quanto pesa sobre nós a percepção do outro. É mais gostoso fingir que dane-se o que pensam de mim, quem me conhece sabe, certo?! Pois bem, desde criança minha primeira lembrança de muitos que me cercam é a comparação, muitas vezes emocionada e de voz embargada, do quanto eu lembro minha tia Rosa. Tia Rosa foi uma mulher que deixou sua marca na vida de muitos, expansiva, inteligente, solidária, um corpo em festa. Que honra a minha lembrar alguém tão especial. Porém notem a conjugação verbal, tia Rosa foi. Pensem numa criança, lá pelos seus 2/3 anos, vendo tia Rosa passar mal na varanda da casa do vô. Essa é a única lembrança vívida que tenho dela, o resto foi construído por histórias de outrem. Lembro de ser colocada em pé na muretinha da varanda, de tia Rosa sentada numa solitária cadeira virada com encosto para frente, um monte de pessoas desconexas em volta. “Pai, o que a tia tem?” “Ela comeu pato hoje, minha filha, acho que não caiu muito bem.” Nunca mais comi pato. Dias depois, tia Rosa faleceu. Levei anos pra entender que a culpa não tinha sido do pobre pato, que morreu antes dela, inclusive.
“Mas essa menina lembra muito a tia Rosa.” “Impressionante como até a unha feia do pé é igual.” “Quando vi, achei que fosse filha da Rosa.” Tia Rosa faleceu aos 32 anos, um aneurisma levou prematuramente essa que deixou um espaço jamais preenchido, nem mesmo por mim, a promessa de sua continuação em Terra.
Que tia Rosa me desculpe pelo que vou admitir agora, mas ela me aterrorizou a vida inteira. “Doutor, acho melhor me encaminhar pro neuro, essa dor de cabeça anda constante.” “Então, Dr., eu já estou há três dias com enxaqueca, deixa eu te contar sobre a minha tia Rosa.” A unha do pé feia igual foi a gota d’água, eu tinha certeza que a mesma força que levou tia Rosa me buscaria antes de completar 33 anos. Imaginem o meu alívio ao assoprar as velinhas ano passado. E não exagero quando digo que minha mente saiu de um estado subconsciente de estagnação e, foi nesse último ano, que comecei a entender quem eu sou, o que eu quero e os caminhos que preciso percorrer. Muitas coisas aconteceram em 2024, foi só soltar a mão dela e caminhar sozinha, dando descoordenados primeiros passos.
Tchau, tia Rosa, agora eu sigo sozinha. Obrigada por tanto, não foi só medo, tá? Tem muita admiração também. Continua inspirando a gente ou só descansa mesmo.
“Em que altura você mora agora? Um dia lhe visitarei […]”
Pra quem ficou curioso, tia Rosa aparece brevemente nesse clipe:
Pritaco:
s.m. 1. Palpite pouco confiável ou fidedigno; 2. Palpite dado por alguém que, geralmente, não conhece o assunto, mas insiste em comentar.
🕵️♀️ @Emicida - Passarinhos ft. Vanessa Da Mata - Música antiga que tá no repeat por aqui ultimamente, finalmente a letra faz sentido.
Soltos a voar dispostos
A achar um ninho (dois, três, quatro)
Nem que seja no peito um do outro […] ♥
Folga de aniversário significa News curtinha, obrigada pela compreensão. Volto com mais surtos em breve.
Com amor,
Pri
parabéeeens sua maravilhosa!! ler sua news me faz sentir mais pertinho de vc <3